Economistas veem “pouso suave” no PIB do 3º tri em meio aos juros elevados

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga, nesta quinta-feira (4), os dados sobre a atividade econômica do país no terceiro trimestre.

A expectativa do mercado é de um crescimento mais moderado do PIB (Produto Interno Bruto), em torno de 0,2% na comparação com o segundo trimestre e 1,7% ante o mesmo período de 2024.

O resultado deve reforçar “o cenário de pouso suave para a economia no segundo semestre”, apontou a economista Ana Paula Vescovi no relatório macro do Santander.

Mesmo em um momento de juros elevados – que tendem a pressionar o crescimento econômico -, o PIB brasileiro vem surpreendendo e superando as expectativas dos economistas.

No resultado do segundo trimestre não foi diferente. A expectativa apurada em pesquisa feita pela Reuters era de uma expansão de 0,3% na comparação trimestral. O resultado foi de 0,4%.

Apesar disso, o dado refletiu uma perda de fôlego frente ao resultado do primeiro trimestre, quando a economia avançou 1,3% (após revisão), com impulso do agronegócio.

Para os três meses encerrados em setembro, o que se observa é que “as altas taxas de juros e as elevadas tarifas dos EUA sobre as exportações brasileiras provavelmente pesaram sobre a atividade”, como destaca Adriana Dupita, vice-economista-chefe para mercados emergentes da Bloomberg Economics, que é ainda mais dura na análise e projeta queda de 0,2% no PIB do trimestre.

“Pouso suave”

No economês, o pouso suave é um cenário no qual a política monetária – os juros – levam o crescimento econômico a desacelerar, mas sem despencar.

A taxa Selic – que mede os juros básicos do país – está acima de dois dígitos desde o começo de 2022, e fixada em 15% ao ano desde junho deste ano – o maior patamar desde 2006 -, seguindo os esforços do BC (Banco Central) de conter a alta dos preços.

Os juros encarecem o custo para tomada de dinheiro e, consequentemente, travam a atividade econômica. Mas, até então, os resultados vinham robustos.

Os economistas ouvidos pelo CNN Money destacam que não só o PIB em si já começa a refletir o efeito das taxas elevadas.

“No primeiro semestre, a gente viu o mercado de trabalho mais aquecido de forma geral, inclusive a gente está vendo um nível de desemprego baixo nesse momento, mas, ao mesmo tempo, a gente está vendo uma série que passou o ano inteiro em taxas elevadíssimas, […] e isso tem deixado o crédito cada vez mais seletivo”, afirma Marco Ribeiro Noernberg, sócio e estrategista de renda variável da Manchester Investimentos.

“A gente viu, inclusive, alguns estresses com relação a crédito privado que abalou um pouco o mercado. Então, quem está gerando crédito para as pessoas físicas estão cada vez mais seletivas, inclusive. A taxa está cara para o consumidor, então isso, de certa forma, tira um pouco o ímpeto de a gente continuar tendo um crescimento mais forte”, pondera.

Além dos dados do mercado de trabalho sinalizarem uma desaceleração na atividade forte que vinha mostrando, a menor abertura de vagas e variação da taxa de ocupação tendem a diminuir o consumo na economia.

Em relatório semanal de segunda-feira (1º), o Banco Daycoval também destacou o arrefecimento nas concessões de crédito tanto para empresas como pessoas físicas, ressaltando o momento de “juros elevados e maior seletividade bancária”.

“Projetamos estabilidade na comparação trimestral, com desaceleração na variação anual frente aos trimestres anteriores, refletindo sobretudo a perda de fôlego do consumo das famílias e da agropecuária, que vinham sustentando a atividade ao longo do primeiro semestre”, pontua a instituição.

Este é outro ponto de atenção levantado pelos especialistas: uma desaceleração na atividade do agronegócio.

“A desaceleração no crescimento sequencial deve-se à agricultura, enquanto observamos uma recuperação em vários outros componentes do PIB. As projeções para as safras do terceiro trimestre (café, algodão, cana-de-açúcar, laranja, etc.) permanecem favoráveis, mas a taxa de crescimento em relação a 2024 é muito menor do que a das safras do segundo trimestre”, aponta o HSBC, em relatório assinado por Daniel Lavarda, head de Research no Brasil.

“Portanto, o ajuste sazonal leva a uma queda no PIB agrícola sequencial entre o terceiro e o segundo trimestre, o que explica a maior parte da desaceleração projetada para o PIB geral.”

Olhando setor por setor, a avaliação é de que o destaque ainda deve seguir com o setor de serviços.

“Em 2025, quem ainda carrega o PIB é o setor de serviços, apoiado no consumo das famílias. A indústria anda, mas com passos curtos”, pontua Adriana Ricci, fundadora da SHS Investimentos.

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